"Não canso de dizer: o ballet é a minha segunda pele".

sexta-feira, 18 de abril de 2008

Encontro de Almas (parte I)

Onegin

A principal Companhia de ballet do país, que é a Companhia de Ballet do Theatro Municipal do Rio de Janeiro encerra a temporada do ano de 2003 contemplando seu maior patrimônio cultural - seus integrantes.
Pode-se dizer que é uma grande e merecida homenagem viver a personagem Tatiana para uma diva internacional do ballet no Brasil : CECÍLIA KERCHE.
Uma personalidade da dança vivendo o drama de um dos mais respeitados escritores russos do séc.XIX Alexander Pushkin.
“Eugene Onegin” propõe à humanidade, uma reflexão sobre: sentimento e ressentimento, egoísmo e generosidade, destino e fatalidade.
A temática desse drama está na impossibilidade de escapar de um destino adverso; a dificuldade em atingir a felicidade e uma ambigüidade das relações sentimentais entre pessoas predestinadas ao sofrimento.
A tragédia de Tatiana assemelha-se ao destino cruel e fatal de Tchaikovsky ambos marcados por uma vida nostálgica de uma “impossível felicidade”. Tatiana é o espelho por onde Tchaikovsky se reconhece.
Cecília Kerche – um perfil de bailarina russa, considerada por Natalia Makarova como melhor Odette - Odile do mundo, faz a tradição do Theatro Municipal do Rio de Janeiro.
Nessa temporada de Onegin tivemos emocionantes atuações não só referente à personagem principal,
mas tivemos uma atuação jovem e significativa de Bruno Rocha como Lensky e Cristiane Quintan no papel de Olga.
Francisco Timbó vivendo Onegin, dedicação e entrega para viver um grande personagem..
Um momento feliz e de grande emoção nesse ballet é a atuação de Carlos Cabral no papel do Príncipe Gremin, um verdadeiro nobre protegendo uma diva, no Pas- de- Deux do terceiro ato - uma cena linda!
E o corpo de baile, com diagonais perfeitas, enobrece esse espetáculo com uma atuação impecável.



Cecília Kerche: Uma brasileira de coração eslavoCecília Kerche empresta sua elegância clássica para viver a personagem mais amada por Tchaikovsky.
Seu percurso em Tatiana é comovente tamanha afinidade de ambas, e sua aparição logo no primeiro ato nos conduz a atmosfera do temperamento russo de sua personagem.
No monólogo da carta, momento alto desse ballet., essa brasileira de coração eslavo, através do sonho de sua personagem, transmite o que Rudolf von Laban chama de: movimento – pensamento – sentimento.
A expectativa de Tatiana em relação ao amor de Onegin, a exaltação e a melancolia, são vividos não apenas no desejo de sua personagem, mas no que se passa na alma de Tchaikovsky.
Cecília Kerche é naturalmente fiel à concepção de John Cranko sobre o drama de Pushkin, sem perder o romantismo evolvente da música de Tchaikovsky.
No terceiro ato, a maturidade de Tatiana revivendo o passado e renunciando ao futuro, é o ápice da maturidade da intérprete que atualiza uma fatalidade.
Uma bailarina profundamente comprometida com sua arte usufrui de uma sensibilidade estética que norteia sua performance.
Solidão sublimada na vida real, amor eterno na ficção - esse é o destino de Tatiana.



Wellen de Barros
Cantora Lírica do T.M.R.J
13/12/2003


* artigo publicado no site: http://www.portaldafamilia.org/

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